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terça-feira, 7 de junho de 2011

Reforço na segurança chegará após ameaçados optarem por sair do PA

Polícia Federal, Exército e Força Nacional começam ação na terça-feira (7).
Pelo menos 30 trabalhadores estão jurados de morte na região de Marabá. 

A chegada de reforço federal para garantir a segurança de assentados no Pará não altera a decisão de trabalhadores rurais ameaçados de morte. Eles optaram por abandonar plantações e fugir da região. Além dos extrativistas relacionados na lista da Comissão Pastoral da Terra (CPT), também vão deixar o assentamento os parentes do casal José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos em uma emboscada na saída do assentamento em Nova Ipixuna (PA).
A força tarefa formada por policiais federais, agentes do Exército e da Força Nacional começa nesta terça-feira (7) a atuar na região. Também nesta terça, líderes do movimento participam de audiência no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. O reforço e o diálogo começam 14 dias após o assassinato do casal. Enquanto alguns decidem fugir, em Marabá, os acampados improvisam uma milícia armada com porretes de madeira para controlar distúrbios e alertar sobre ação de pistoleiros.
A assessoria do Ministério da Justiça informou que vai reforçar a segurança no Pará, Rondônia e Amazonas, nas regiões onde ocorreram crimes na última semana e onde há conflitos pela terra. A ação, segundo a assessoria, será baseada no apoio às ações das polícias locais. Sobre a quantidade de homens que participarão, o ministério informou que ainda não tem o número e que não vai divulgá-lo por questões de segurança. A duração do reforço na segurança também não está definida. A assessoria informou que “ela atuará enquanto necessária”.


Até então sem proteção direta de forças de segurança, os grupos buscavam com improviso maneiras de evitar o crescimento da lista de 42 líderes assassinados em dez anos na região, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).  Na semana passada, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, destacou que o governo avalia as situações mais graves de ameaça, mas não tem condição de dar segurança para todos.
Segundo a CPT, há 70 mil famílias assentadas ou cadastradas em 39 municípios que compõem o Sul e Sudeste do Pará. A pastoral divulgou, na semana passada, uma lista com o nome de 30 trabalhadores rurais na região de Marabá que estão recebendo ameaças ou que já sofreram algum tipo de atentado no período de 2000 a 2010.  De acordo com a organização, foi apresentado ao governo federal uma lista com 1.855 nomes de trabalhadores que sofreram algum tipo de ameaça no período. Destes, 207 receberam mais de uma ameaça.

A Polícia Civil ouviu 25 testemunhas sobre o caso, mas não conseguiu determinar os possíveis mandantes do crime e os executores do plano. O delegado Álvaro Ikeda, do Núcleo de Apoio às Investigações, e Rilmar Firmino de Sousa, delegado-geral do Pará, estão em Marabá para acompanhar a investigação.

Medo
Aos 57 anos, o agricultor José Martins, o Zequinha, lamenta ter que deixar as terras que cultiva à beira do Lago Tucuri, em Nova Ipixuna, sudoeste do Pará. Ele é um dos 30 moradores do assentamento agroextrativista Praialta Piranheira jurados de morte por pistoleiros. Muitos lotes do local são rodeados por uma vegetação ainda intocada e são desejadas para extração irregular de madeira e criação de gado, virando alvo de cobiça de fazendeiros e madeireiros.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que pediu para a Justiça estadual o embargo de 12 madeireiras da região.
“Já queimaram quatro casas minhas aqui em seis meses. Foi a minha casa de morada, uma cisterna, uma casa de forno e uma casa de galinha. Já inventaram que sou pedófilo, e essa calúnia é o que mais me dói. Tenho uma filha de 10 anos e me sinto cortado por dentro. Deus é o advogado dos advogados, e eu confio nele. Não quero ficar mais de um mês aqui”, disse o agricultor.
Outro agricultor da região, que prefere não se identificar, também lamenta ter de deixar suas terras. “Foi o José Claudio e a dona Maria que me trouxeram para cá. Com o apoio deles era mais fácil, mais tranquilo, a gente superava até as ameaças. Agora, com a morte deles, fica mais difícil de viver, pois perdemos força, nos sentimos sozinhos, isolados, esquecidos. Não tenho mais como ir para a roça e deixar minha mulher e filhos em casa. Não dá nem para dormir uma noite inteira. Desisti e vou embora.”
Irmã de assassinado
Segundo Claudelice Silva dos Santos, de 29 anos, irmã de José Claudio, a saída dos agricultores do assentamento pode sinalizar o fim do movimento pacífico de manejo sustentável da terra na região.
“Os fazendeiros, os madeireiros querem usufruir da natureza, derrubar a floresta, a vegetação nativa ao preço de um lucro pequeno e imediato. Para isso, eles usam de intimidação, ameaças para garantir o que eles consideram serem donos. Aqui não há dono de terra, a terra que está aqui é da União, o que nós temos é o direito de uso. Isso precisa ficar claro para a sociedade”, explica.
Pelo menos seis familiares dela, que viviam na região onde o irmão extrativista foi morto com a mulher, deixaram suas casas no assentamento agroextrativista Praialta Piranheira. Temerosos, não revelam onde estão morando para evitar qualquer possibilidade de novos atentados.
Denúncia de laranjas
De acordo com os extrativistas, José Claudio e Maria morreram por denunciar o uso de “laranjas” para a aquisição de lotes no assentamento agroextrativista, onde viviam e trabalhavam. Segundo as denúncias do casal, o esquema envolveria um cartório da região, fazendeiros e madeireiros, na tentativa de reassumir o controle de terras que foram loteadas.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que deve vistoriar 20 mil lotes em 44 assentamentos em Marabá. No sudeste paraense, existem cerca de 69 mil lotes em quase 500 assentamentos.
Tropas federais
A “Operação Proteção à Vida”, coordenada pelo Ministério da Justiça e que envolve a presença de homens da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança vai começar a partir desta terça-feira (7) na região.
Policiais federais já estão em Marabá a pedido da presidente da República, Dilma Rousseff, para investigar a morte do casal de extrativistas. Policiais civis de Belém foram deslocados para reforçar a investigação do mesmo caso.
Acampados
Desde maio, centenas de militantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) montaram acampamento em frente à sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Marabá (PA).

Distantes da presença policial, em acampamentos de sem terras na cidade, a garantia de segurança é oferecida pelos próprios agricultores, que improvisam um sistema de vigília 24 horas, feita por seguranças do movimento, munidos apenas de pedaços de pau e coletes com a identificação de “Segurança”. Eles circulam por todo o acampamento para evitar ataques surpresas de possíveis pistoleiros.

Para se defender de possíveis ataques, os sem terra montaram uma equipe de “milícia”. O objetivo principal é coibir ações de seguranças de fazendas e de pistoleiros. “Serve para defender a gente dos que são contra o movimento, para não sermos surpreendidos. Fazemos rondas por todo o acampamento durante 24 horas”, disse o chefe do grupo, que preferiu se identificar apenas como Francisco.
O “comandante” da tropa, que usa apenas um porrete improvisado de madeira para trabalhar, disse que a medida também serve para proteger os acampados de qualquer tipo de violência.
As armas de defesa, conta o comandante, são fabricadas no próprio acampamento. “A gente faz rapidinho esses porretes. Usamos madeira branca porque é fácil de moldar e é resistente. Nunca precisei usar o porrete”, disse o vigilante Denival Lopes dos Reis, 32 anos.
(G1)


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