Toda criança sonha no domingo de Páscoa ganhar ovos de chocolate e se esbaldar comendo até o final, lambendo a até a embalagem. Mas nem todas têm essa chance. Além da falta de dinheiro, há quem seja impedido pelas alergias ao chocolate ou mesmo ao leite. Em relação à questão financeira é mais fácil resolver, porque avós e os tios são ótimos para solucionarem o problema. Mas quando se trata da saúde, por mais que seja dolorido para os pais, deve prevalecer o bom senso e dizer não para o filho, por mais que o deixe triste.
Quem passa há nove anos por essa situação é a dona de casa Ana Patrícia Silva e Silva, por causa da intolerância à lactose que a filha dela, Anne, tem. O problema da menina foi descoberto por volta dos três ou quatro anos de idade, quando a mãe começou a introduzir em seu cardápio o iogurte. A partir daí, a criança começou a se queixar de dor na barriga e, consequentemente, a ter diarreia.
'Eu ia aos médicos e passavam exames, mas não era descoberto o problema. Só depois a minha cunhada levantou a suspeita de a Anne ter intolerância à lactose, porque os sintomas eram parecidos com os dos primos dela. Procurei um especialista nessa área e após consulta e exames específicos foi constatada a intolerância à lactose', lembra Patrícia.
Diante disso, seguindo orientações médicas, Patrícia cortou de imediato o leite, derivados do leite da alimentação da filha, e iniciou o tratamento que segue até hoje. Ela diz que por causa do acompanhamento médico Anne tem comido chocolate, mas de forma controlada. Ovo de páscoa de chocolate inteiro, nem pensar.
A menina tem que se contentar com um pedaço pequeno e ainda passar dias sem consumir novamente. A última vez que Anne comeu chocolate foi na terça-feira passada, por ocasião da festa da Páscoa na escola.
Se Patrícia fala com lamento, imagina a filha. 'Eu adoro chocolate, fico estressada em saber que não posso comer muito. Chocolate na minha frente é um perigo', ressalta Anne, lembrando que somente quando sente dor recusa o chocolate. Ela informa que além do chocolate ao leite, o que a irrita por não poder consumir é o pão de queijo. Apesar de toda a restrição, mãe e filha seguem um acordo, que tem como principal compromisso a vida da menina.
Ao contrário de Patrícia, a dona de casa Lucyleide Marques de Melo é mais conformada com o pesar de ter o filho Vinícius, de 9 anos, que tem asma e ainda problemas ao comer alguns alimentos, dentre eles, o chocolate ao leite. Lucy - como é conhecida Lucyleide - se diz uma sortuda, porque diferentemente de Anne, ele não gosta de chocolate. 'Não gosto de chocolate; refrigerante só de guaraná; e bom-bom, não muito', diz o menino.
Ele afirma que no período da Páscoa não é nenhum problema ver ovos de chocolate, é um produto que só compra por causa dos brinquedos que têm como brinde. 'Ele ganha ovo de chocolate e sou eu quem come. Ele só fica com o brinquedo que tem dentro', diz, satisfeita, Lucy, amante do produto.
A intolerância à lactose significa a incapacidade de aproveitamento da lactose, ingrediente característico do leite animal ou derivados (laticínios) que produz alterações abdominais, no mais das vezes, diarreia, que é mais evidente nas primeiras horas seguintes ao seu consumo. Os especialistas falam que na superfície mucosa do intestino delgado há células que produzem, estocam e liberam uma enzima digestiva (fermento) chamada lactase, responsável pela digestão da lactose, que quando mal absorvida passa a ser fermentada pela flora intestinal, produzindo gás e ácidos orgânicos e resulta na chamada diarreia osmótica, com grande perda intestinal dos líquidos orgânicos.
Artesã produz a partir da reciclagem - Para quem não pode ou não gosta de comer chocolate, uma alternativa é curtir o domingo da Páscoa brincando com os brinquedos que já fazem parte dos ovos. Quem tem o prazer de presentear os netos e bisnetos que têm algum tipo de impedimento para consumir o produto é a artesã Maria do Socorro Silveira da Silva. Este ano, ela foi a responsável pela produção de mais de 500 ovos de chocolate e coelhinhos de brinquedos.
No ovinho de chocolate, não fugiu da produção tradicional, mas o coelhinho foi feito com material reciclado, assim como o porta-ovo. Um brinde que, além de agradar às crianças, ainda significa respeito ao meio ambiente. 'Tudo aqui é material reaproveitado: o porta-ovo e o coelho são caixa de leite e papelão, a roupinha é retalho de pano, fitilho e o corpo é feito com algodão antialérgico, para que não prejudique a saúde das crianças', explica Maia.
Segundo ela, a sua principal clientela são professoras que organizam as festinhas de Páscoa de seus alunos, uma forma de viver os ensinamentos cristãos brincando. Ela diz que este ano a demanda foi menor que no ano passado, mas ela não esconde a satisfação de ter se dedicado mais uma vez na produção de um trabalho que, na opinião dela, ajuda a contribuir de várias formas com o público infantil. Primeiro, porque é um momento importante para os cristãos; segundo, por ser feito pensando na preservação do meio ambiente; terceiro, porque faz bem à saúde das crianças.
(ORM)
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